domingo, 26 de abril de 2009

Envelhecimento dos aquários | Parte 1

Tema: O “Envelhecimento” dos aquários parte 1
Autor: Nelson Pena

Introdução
A aquariofilia é, por vezes tratada como uma ciência flexível e evolutiva, embora, na minha perspectiva, seja vista como exacta e rigorosa, em que os equilíbrios dos parâmetros químicos reflectem-se na qualidade de vida dos animais que habitam os nossos aquários. Essa capacidade de aplicar com rigor e antecipação esses equilíbrios exige que o aquarista nunca pare de estudar e, principalmente, reflectir sobre as informações, inclusive sobre a matéria sobre a qual escrevo.

O “Envelhecimento” dos aquários
O “envelhecimento” dos aquários está intimamente ligado ao descontrolo do aquarista na relação entrada / saída de nutrientes nos aquários, isto é os aquários com o passar do tempo tendem a armanezar quantidades excessivas de nutrientes na forma orgânica e inorgânica, isto poderá ter resultados irreversíveis a médio / longo prazo caminhando mesmo para uma situação incomportável pelos seres vivos. A relação de entrada / saída das cargas de nutrientes é hoje o principal factor de longevidade dos sistemas, pois sem a adequada racionalidade na alimentação dos diferentes seres vivos do aquário, bem como a capacidade de exportação das cargas orgânicas / inorgânicas o sistema facilmente entra em falência com a desregulação dos parâmetros químicos, bem como a saturação dos sedimentos,detritos e partículas ao longo do substrato e superfícies rochosas.
Este “envelhecimento” surge também associado a outros factores de que tratarei no futuro como a insuficiência de trocas de água, a acumulação de metais pesados, descontrolos bacteriológicos, entre outros.

Sintomas do “envelhecimento” do aquário
O "envelhecimento" precoce do aquário geralmente surge associado a sintomas de proliferação descontrolada de algas, excesso de sedimentação no substrato e rocha viva, seguido de efeitos funestos e irreparáveis na saúde dos corais e peixes, que se poderão revelar através de um "rapid tissues necrosis " (RTN) por parte dos corais ou mesmo morte de peixes em situação limite. São usuais as histórias ligadas ao falecimento total de todos os habitantes do aquário num curto espaço de tempo, o denominado crash do aquário, os americanos apelidam de “Old Tank Syndrome” e geralmente surge como o último dos sinais (irreparável) associado ao processo de que trato. A inconsistência de métodos preventivos resultará inevitavelmente no aparecimento destes sintomas que deverão ser respeitados e alvo de estudo racional.

Fosfato
O fosfato é um dos elementos químicos que mais se pode associar a este “envelhecimento” dos aquários pois será um dos químicos mais desestabilizadores e infelizmente mais presente nos aquários. O fosfato chega-nos ao aquário essencialmente através da alimentação,da água usada para reposição e trocas de água e sobretudo pelos resíduos dos processos metabólicos dos organismos (fosfato, dióxido de carbono, amônia, nitrito, nitrato).O controle na alimentação, bem como a racionalidade na carga de peixes são importantes factores a ter em conta neste aspecto.
O fosfato aparece nos aquários sobre a forma inorgânica e orgânica.O processo de mineralização através da acção bacteriana é responsável pela transformação de fosfatos orgânicos em fosfatos inorgânicos.
O fosfato inorgânico é mais abundante nos aquários e aparece essencialmente na forma de ortofosfatos, podendo estar ligado a ácido ortofosfórico e encontram-se com valores diferenciados em diferentes tipos de localização e profundidade nos Oceanos.
O fosfato orgânico é estéril de ácido ortofosfórico e surge em compostos muito mais complexos
Concentrações em torno de 0,01mg/l / 0,02 mg/l são no meu entender ideais para a sustentabilidade de um sistema de corais duros pois fornecem alimentação necessária a saúde das algas simbióticas (zooxantellas) fortalecendo a vitalidade das cores mas sem permitir a multiplicação excessiva das mesmas que naturalmente descoloraria a pigmentação do coral duro. Deverá existir a preocupação em adquirir um teste de ortofosfatos inorgânicos que permita ter uma leitura correcta e mais realista do estado do aquário.

Muitas das vezes o aquarista não se consciencializa sobre o porquê do aparecimento de algas e remete-se unicamente ao combate das mesmas algas sem olhar à profundidade do problema geralmente associado a excesso de nutrientes, particularmente fosfatos.Além disso o fosfato num sistema pensado para SPS (small polyp scleractinia) poderá desencadear um processo negativo de abrandamento dos tons coloridos até a libertação de tecido e também directamente inibir o processo de calcificação dos corais sobretudo na forma de ortofosfato pois bloqueia a precipitação de carbonato de cálcio da coluna de água.

Exportação de Fosfato
O processo de exportação de fosfato poderá ser feito de diferentes formas, contudo o uso do escumador, o refúgio de macro algas, bactérias e mídias são as mais consensuais e com provas dadas ao invés do hidróxido de cálcio que tem vindo a revelar uma certa inutilidade na precipitação de fosfatos, tendo-se apenas verificado alguma eficiência através da super saturação e consequente precipitação de fosfato de cálcio podendo mesmo precipitar para superfícies de carbonato de cálcio como a rocha viva e substrato. Este processo de precipitações criará desta forma irregulações incomportáveis a longo prazo.

O escumador é um dos mais fiáveis exportadores de fosfato orgânico, contudo devemos fornecer a quantidade suficiente de circulação interna ao sistema, eliminando a retenção de sedimentação, procurando manter os detritos e partículas em suspensão para proporcionar o melhor aproveitamento da funcionalidade da escumação e melhoria da exportação de nutrientes para a lama orgânica. Outro dos aspectos positivos na utilização de um escumador eficiente prende-se na capacidade de reduzir a taxa de transformação de fosfatos orgânicos para fosfatos inorgânicos.
A utilização de proliferação de bactérias poderá ser a filtragem do futuro, pois assenta numa base em que as bactérias consomem os compostos orgânicos dissolvidos e serão posteriormente eliminadas pelo escumador, contudo ainda existem alguns desequilíbrios sobre a selectividade dessas bactérias bem como o meio de alimentação das mesmas. A utilização de fontes de carbono como a vodka (etanol), o açúcar (glicose ) e o vinagre (ácido acético) estão pendentes de compravação científica, contudo o principal problema reside no facto de não existir controlo sobre o consumo de oxigênio por parte das bactérias.
O cultivo de macro algas é hoje um dos filtros mais usados pelos aquaristas e é sem dúvida uma excelente escolha tendo em conta a relação eficiência/custo . Algas como Caulerpa racemosa e Chaetomorpha spp. são duas das mais rentáveis opções para exportar fosfato além de retirar compostos de nitrogénio, contudo no caso da primeira deverá ser tido em conta o aspecto reprodutivo da mesma, pois sem o uso de iluminação 24 horas / dia as taxas de reprodução assexuada serão prejudiciais ao sistema. Outro dos inconvenientes é o forte consumo de elementos vestigiais (oligoelementos) criando assim alguns desequilíbrios iónicos dos mesmos.
Um dos aspectos que mais defendo para o controle de fosfatos orgânicos e inorgânicos e outros compostos orgânicos é a qualidade base da água usada para reposição e trocas de água, pois sem essa mesma qualidade em termos de limpeza, o seu sistema estará sempre sendo influenciado negativamente a cada reposição e troca de água.A aposta num sistema de osmose inversa com resinas anti-fosfatos e com capacidade de filtrar a água até valores de 15 ppm (tds meter) favorecerá o sistema e atenuará os geradores de fosfato.

Sumário:
A qualidade de um aquário mede-se pela longevidade que o sistema consegue se manter em evolução, para isso o controle dos “inputs/outputs” dos nutrientes, a capacidade de respeitar e aplicar os métodos de exportação referidos irá naturalmente reflectir-se na sustentabilidade do aquário.

Publicado in "BioAquaria" em Janeiro 2009 nº12

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